sábado, 4 de agosto de 2012

“Duque de Caxias precisa de novo plano diretor”

Com mais de 50 anos de experiência, o advogado e jornalista Alberto Marques é uma referência na história de Duque de Caxias, especialmente no campo político. Nesta entrevista ao Capital Eleições 2012, ele fala sobre o futuro da cidade onde ele nasceu há 74 anos com uma ponta de esperança de que, além de segunda cidade em arrecadação de impostos no Estado do Rio, Duque de Caxias também passe a ser considerado um município que ofereça aos seus cerca de um  milhão de habitantes uma melhor e mais saudável condição de vida.

Qual a visão que você tem do município 69 anos depois de sua emancipação?
- Duque de Caxias é uma cidade que tem um povo privilegiado. Ela cresce mesmo que não tenha qualquer ajuda do chamado “poder público”.

O que mudou na Vila Meriti onde você nasceu e a cidade em que seus netos vivem?
- Ao contrário dos historiadores que demarcam várias etapas, como por exemplo antes e depois de Tenório, eu vejo a  minha cidade em apenas duas fases: antes e depois do primeiro Governo Moacyr do Carmo.

Explique melhor essa divisão histórica
- As eleições de 1966 foram um marco na história de Duque de Caxias, pois ofereciam de um lado um candidato da Arena, com uma visão imediatista do Poder, como calçar ruas e inaugurar praças. O médico Moacyr do Carmo, ex-trabalhista e vinculado ao MDB, tinha um visão mais ampla das mazelas sociais da cidade, como a falta de saneamento básico, de escolas, de postos de saúde que tratasse preventivamente da população, que há 15 anos esperava por um Hospital e por aí vai. Ao seu lado, ele tinha o advogado e jornalista Ruyter Poubel, que vislumbrava o crescimento da cidade, mas temia pela falta de infraestrutura.

Como, então,  garantir o futuro da cidade?
- Com as ferramentas disponíveis, como planejamento e o estabelecimento de metas e linhas de ação do Governo e da população. E isso foi feito através de um audacioso projeto - a contratação de uma empresa especializada - para elaborar o Plano de Desenvolvimento Integrado de Duque de Caxias, o que foi feito através da contratação do escritório do arquiteto Maurício Roberto, em 1968.

O que significava esse plano?
- Ele estabelecia as linhas gerais de ação do governo, como o zoneamento da cidade, dando ao empresário uma orientação de como o Governo iria agir em determinado assunto e o que o investidor poderia ganhar se viesse para Duque de Caxias. E assim surgiu o plano para orientar o desenvolvimento do município e prepará-lo para o Século XXI.

Como foi a repercussão dentro e fora da cidade?
- Como a primeira cidade, fora das capitais, a elaborar um plano de desenvolvimento econômico, o Governo estabeleceu as linhas que iriam orientar a implantação de novas indústrias, de pólos de serviço e o que o Governo iria oferecer como incentivo real. Ao invés de isenção de impostos, a Prefeitura iniciou um plano de obras viárias interligando bairros e regiões, deixando de lado o crescimento expontaneo ao longo da Rodovia BR-040 ou da antiga Rio-Petrópolis, que o Governo Federal transferira para ao DER/RJ.

O que significou esse Plano para os empresários?
- Economia de custos. Até o início do primeiro Governo Moacyr do Carmo, uma empresa sediada no bairro Olavo Bilac que precisasse enviar seu produto parra o Parque Lafaiete, precisava utilizar as Avenidas. Presidente Kennedy e Nilo Peçanha. Com a pavimentação das vias que passam pelo bairro Periquitos, como a 5 de Julho e Washington Luis, a ligação ficou mais rápida e com menos custos. Sem falarmos na pavimentação de vias importantes dos outros distritos, que passaram a ter um programa permanente de conservação e limpeza.

E como ficaram a Educação e a Saúde?
- Com a parceria firmada com o então Governador Jeremias Fontes, a cidade conseguiu construir cerca de 50 Grupos Escolares, um Centro de Saúde e 7 Postos de Saúde espalhados pelos Distritos, inclusive em Imbariê e Xerém, que continuam funcionando até hoje.

Como você vê o futuro de Duque de Caxias?
- O que me entristece, de verdade, é constatar que ainda temos candidatos que na verdade não tem um plano de governo definido, que se encaixe nas necessidades de Duque de Caxias. Não posso negar a minha preocupação, principalmente por constatar que nas discussões envolvendo os atuais candidatos a prefeito e vereador, a palavra chave da campanha é “mudança”. Ocorre que os problemas da Duque de Caxias de hoje - saneamento básico, educação, saúde, segurança, meio ambiente, habitação, iluminação publica e transporte - que já eram urgentes nos anos 60, tornaram-se mais urgentes hoje, quando os trens, que ajudaram no crescimento da cidade depois da emancipação, em 1943, oferecendo um transporte rápido, confortável e confiável, e os ônibus, que seriam uma alternativa para o acesso aos bairros mais distantes, só trazem transtornos à população. Lamentavelmente, no dicionário dos diversos candidatos que já tivemos oportunidade de ouvir, esses problemas não aparentam ser prioridade. Mesmo com o uso da internet, o que barateia o custo das campanhas, os políticos ainda pensam na bica d’água, na cartinha para emprego, na distribuição de cestas básicas ou na abertura de confortáveis centros sociais para atender justamente a população da periferia, que não tem acessos aos serviços básicos da cidadania. É uma triste realidade, pois usurpam a atribuição do poder público, que eles mesmo denigrem propositadamente para se apresentarem como “salvadores da pátria”.